sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Insegurança energética - Editorial ZH


O país precisa planejar-se de forma mais racional, diversificando a geração de energia e conciliando a oferta com a expectativa de crescimento da atividade econômica.
Cercada de grande expectativa devido às notícias sobre um possível racionamento de energia, a reunião de ontem do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico pode até ter sido rotineira, como se esforçaram em garantir seus participantes ao final dos trabalhos, mas teve significado especial para o país. Serviu para que os responsáveis pela área se pronunciassem com transparência e reassumissem compromissos importantes perante a população. É o caso do próprio ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, que reconheceu o baixo nível dos reservatórios hídricos, confirmando as razões para os temores da população, mas assegurou que não houve, não haverá e espera que "jamais haja desabastecimento de energia neste país". A posição oficial do governo serve para tranquilizar o mercado e para reduzir a ansiedade dos consumidores. Essa, porém, é uma área em que só as ações concretas pensadas a longo prazo são capazes de transmitir segurança a famílias e empresas.
O que preocupa, portanto, é o fato de, mais uma vez, os receios quanto à possibilidade de desabastecimento ou de um apagão estarem sendo dissipados com promessas _ e não com a reafirmação de investimentos que realmente possam fazer a diferença agora e mais à frente. As atenções nesse momento, em grande parte, estão voltadas para a expectativa de boas chuvas e para o uso de alternativas como as térmicas, de custo mais elevado, que mais cedo ou mais tarde acaba sendo transferido de alguma forma para os consumidores. E num momento em que os consumidores aguardam justamente pela prometida redução na tarifa, reafirmada ontem.
Especialista em energia elétrica, a presidente Dilma Rousseff é defensora da tese de que, nessa área, o país não pode ficar na dependência de clima propício para as hidrelétricas. As condições foram particularmente desfavoráveis em dezembro, com o agravante de que as novas usinas não contam mais com reservatórios, devido a exigências de ordem ambiental. Por mais que o número de projetos destinados a geração e transmissão tenha sido reforçado nos últimos anos, o gerenciamento da política energética ainda é incapaz de afastar o temor de repetição de situações como o apagão de 2001, quando a perspectiva de reativação econômica simplesmente esbarrou na falta de energia. A situação só não é mais preocupante hoje porque, mais de uma década depois, a atividade econômica está praticamente estagnada e ainda não há sinais de uma reativação expressiva.
O país precisa planejar-se de forma mais racional, diversificando a geração de energia e conciliando a oferta com a expectativa de crescimento da atividade econômica. Isso significa que, mesmo dispondo de tantas riquezas naturais, não pode continuar dependendo tanto de usinas hidrelétricas. O momento é sério demais e não permite qualquer vacilação por parte do poder público. É importante que a presidente da República, como especialista reconhecida na área, assuma o comando da operação antidesabastecimento, até mesmo para honrar seu recente compromisso com o país, de que não faltará energia para a retomada do desenvolvimento.

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